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Falta de Bussulfano afeta transplantes de medula: histórias de quem já usou

A Abrale, ao lado de outras organizações, já acionou o Ministério da Saúde para pedir que eles tomem alguma providência sobre o assunto

O anúncio da descontinuidade do medicamento bussulfano no Brasil pela farmacêutica Pierre Fabre, única fornecedora do medicamento, causou a mobilização de centenas de pacientes que já usaram a droga ou que aguardam na fila por um doador compatível.

O remédio é essencial para garantir a efetividade de transplantes de medula óssea. Sem o bussulfano, nenhum dos 4.339 procedimentos teria sido realizado no ano de 2019, o que poderia significar um desfecho negativo -desde a ineficácia da enxertia medular (ou “pega” da medula óssea, o que significa que a medula já está instalada e funcionando) até a morte de pacientes onco-hematológicos com diagnósticos de doenças como a leucemia mieloide crônica.

“Qualquer um pode precisar do bussulfano”

Amanda Vieira dos Santos, 31, que recebeu o diagnóstico de Linfoma de Hodgkin em 2014 após um ano de investigação, foi uma das brasileiras que se beneficiou do medicamento. A doença, um tipo de câncer, tem origem no sistema linfático, conjunto composto por órgãos (linfonodos ou gânglios) e tecidos que produzem as células responsáveis pela imunidade e vasos que conduzem estas células no corpo.

Foi só em 2018 que precisou utilizar o medicamento bussulfano antes do transplante de medula óssea. Isso porque a engenheira de produção já tinha realizado outros métodos para tratar a doença, como transplante autólogo (utiliza a medula da própria pessoa, sem necessidade de doador), sessões de quimioterapia e radioterapia.

No caso de Amanda, a irmã mais nova foi a doadora da medula óssea.

“Começamos os testes, primeiro, com a família. Caso não tivesse ninguém compatível, entraria na lista do Redome para achar um doador. Tenho dois irmãos e, nos exames, minha irmã mais nova deu 100% compatível e meu irmão, 50%”, conta a engenheira.

Em 2018, Amanda precisou do bussulfano, entre outros medicamentos, para poder realizar o transplante de medula óssea. “Fiquei internada seis dias fazendo a quimioterapia que vai destruir a medula doente. Nesta químio, o protocolo incluía o uso do bussulfano. Sem ele, não conseguimos ter a medula zerada”, conta.

Hoje, com a doença em remissão, ou seja, sob controle, há dois anos, Amanda ainda sente os efeitos colaterais do transplante de medula óssea, como a doença do enxerto contra hospedeiro em alguns órgãos do corpo. “De qualquer forma, o transplante ajudou a segurar a doença a não voltar de forma tão agressiva. Mas, se voltar, é possível tratar”, diz.

A engenheira disse que o tipo sanguíneo dela mudou de A+ para O+, igual ao da minha irmã”. “O último exame que fiz, chamado de quimerismo, para ver a quantidade de medula do doador no meu corpo deu 100%. Então a medula ainda é dela. O transplante me ajudou a me manter bem neste tempo todo”.

Com a descontinuidade do medicamento no Brasil, a engenheira tem atuado ativamente nas redes sociais para mostrar a importância do bussulfano para salvar vidas. “Estamos tentando fazer um barulho depois que a Duda Riedel fez um tuíte falando sobre o medicamento. Muita gente compartilhou”. Agora, Amanda tenta incentivar uma campanha, na qual pessoas que já fizeram o uso do medicamento, postam uma foto segurando uma placa com os dizeres: “Sou transplantada e precisei do bussulfano”.

“Estamos buscando alguma resposta ou solução para isso. Qualquer um pode precisar [do bussulfano] e até mesmo nós [pessoas que fizeram transplante de medula óssea] podemos precisar de novo. Sem bussulfano, não tem transplante porque não dá para matar a medula e não tem porque colocar uma nova”, diz a jovem.

“Se meu filho está vivo, é graças ao bussulfano”

Para Mariana da Silva, mãe do Luiz Henrique, hoje com dois anos e 10 meses, a situação de conseguir um doador compatível, mas não poder realizar o procedimento por falta da droga, é inimaginável.

A família, que vive na cidade de Itaituba, no estado do Pará, descobriu que Luiz tinha leucemia mieloide aguda nos últimos dias de 2019. “A médica explicou que a doença é menos comum em crianças e mais agressiva. De cara a saída já é transplante, nem se se cogita a quimioterapia”, conta Mariana.

Luiz encontrou um doador 100% compatível no banco, mas por motivos clínicos que não são informados à família do paciente, ele não se encontrava apto a doar. O pai, que também era compatível, foi quem forneceu o material que viabilizou o procedimento.

O transplante foi feito em 27 de março de 2020, no dia do aniversário de dois anos do pequeno, na cidade de Curitiba. “Por todo o processo, passamos oito meses longe de casa. Voltar e curtir o Natal no nosso lar foi emocionante”, diz a mãe.

Depois de dois ciclos de quimioterapia complementar, Luiz está em remissão do câncer e faz acompanhamento com equipe multidisciplinar. “Hoje, meu filho está vivo e em remissão do câncer. Se não tivesse feito o uso do bussulfano, talvez não fosse assim”, diz a mãe.

Como o medicamento age?

Segundo Breno Gusmão, do comitê científico da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) e hematologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o medicamento bussulfano faz parte do tratamento realizado antes do transplante de medula óssea. “Ele vai eliminar o resto da doença, deixando o paciente apto para receber a nova medula óssea”.

Gusmão explica também que esse medicamento é usado em associação com outras drogas, mas ainda é um dos pilares para o transplante alogênico, ou seja, que necessita de um doador. É utilizado, principalmente, por pessoas que estão no tratamento de leucemia e linfoma, que podem necessitar do transplante de medula óssea para se curar.

Falta de medicamento afeta tratamentos e sobrevida

Por não ter um remédio que substitua o bussulfano, a opção é criar adaptações e combinações de tratamento que, como explica o hematologista da BP, irá trazer resultados piores. “A descontinuação desse remédio compromete o resultado do tratamento e a sobrevida dos pacientes. Estamos falando de doenças letais, doenças que matam, e que o transplante de medula óssea é uma opção de cura. Então, também estamos diminuindo as opções de cura dessas pessoas”.

Gusmão explica que a expectativa é que 5.000 pacientes necessitem do medicamento ainda neste ano. Mais de 6.500 pessoas fizeram o transplante em 2019, segundo o médico. “Esse problema precisa ser solucionado o quanto antes. Essas doenças não esperam”, alerta. “Se a gente privar os pacientes do remédio, teremos resultados piores e a doença pode recair -e o nível de mortalidade é alto”.

A Abrale, associação da qual o especialista faz parte do comitê científico, ao lado de outras organizações, já acionou o Ministério da Saúde para pedir que eles tomem alguma providência sobre o assunto.

Laboratório fará pedido de importação do medicamento

A Pierre Fabre, distribuidora exclusiva no Brasil do bussulfano (com o nome comercial de Busilvex®), explica que a licença do medicamento pertence ao laboratório japonês Otsuka. Segundo a farmacêutica, “a possibilidade de interrupção do abastecimento surgiu de uma questão operacional, decorrente do encerramento da atividade de produção do medicamento no local de fabricação atualmente aprovado pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]”.

Em nota, Pierre Fabre também afirma que não interrompeu a distribuição e o estoque atual atende os pacientes brasileiros até junho de 2021. Em um novo comunicado, a empresa explicou que, após uma reunião com a Anvisa no dia 8 de janeiro, irá oficializar um pedido de excepcionalidade de importação de Bussulfano proveniente de um outro parceiro da Otsuka, que atenderia o mercado brasileiro até metade de 2022, para que haja mais tempo de se buscar uma solução definitiva para a normalização das importações.

 

Fonte: Uol Viva Bem / Saúde – Giulia Granchi e Luiza Vidal

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