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É necessário quebrar os tabus sobre a leucemia

Há vários enganos a respeito desse tipo de câncer no sangue circulando por aí. Médica fala da importância de superá-los

Ainda que a temática “saúde” – em especial os assuntos relacionados à oncologia – venha ganhando cada vez mais espaço e atenção nos veículos de comunicação, existem desinformações e tabus que precisam ser quebrados.

Falando especificamente de leucemia, são diferentes os estigmas em torno desse tipo de câncer. Alguns exemplos: ter medo de falar o nome da doença para não “atrair”; associar a anemia não tratada com a causa desse quadro; e até mesmo relacionar a doença com uma sentença de morte iminente ou maus prognósticos.

Embora vivamos tempos de elevado desenvolvimento técnico científico e inovação no setor, a questão do acesso a uma informação em saúde confiável, ampla e inclusiva ainda é um enorme desafio no Brasil.

Somente em 2023, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados 11 540 novos casos de leucemia.

As estatísticas oficiais do câncer são fundamentais para entendermos os tipos mais incidentes e a distribuição por tipo de neoplasia pelas regiões do país, além de compreendermos as necessidades de prioridade das políticas públicas de saúde para controle e combate à doença na população.

Mas, pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) em 2022, com pacientes de leucemia, revelou que mais de 50% deles nunca tinham ouvido falar sobre a doença antes do diagnóstico.

É alarmante pensar que grande parte das pessoas ainda desconhece uma neoplasia que exige urgência no diagnóstico e tratamento.

Por isso, o primeiro ponto que queremos reforçar à sociedade com a nossa campanha “Leucemia. Quebrando tabus” é que esse câncer sanguíneo não escolhe idade, sexo, raça e nem classe social.

Ele se desenvolve na medula óssea, quando os glóbulos brancos (que são células de defesa) passam a se produzir de maneira errada e a não mais desempenharem seu papel de proteção. Importante dizer: não é contagiosa.

Conhecer os sinais e sintomas é o primeiro passo para a busca de ajuda em uma unidade de saúde e atendimento com especialista médico da Onco-Hematologia.

Dentre os mais frequentes estão:

• Fraqueza
• Fadiga
• Sangramentos
• Manchas roxas no corpo
• Dores nas pernas/ossos
• Febre
• Gânglios aumentados
• Dor e aumento na região esquerda do corpo (baço)
• Suor noturno
• Perda de peso sem motivo aparente

Com um simples hemograma (exame de sangue) é possível detectar a alteração nas células sanguíneas e desconfiar de uma leucemia.

Mas nem sempre todos têm acesso à realização rápida desse exame e a uma consulta médica para esclarecimentos.

A pesquisa da Abrale também revelou que 11% dos pacientes demoraram entre seis meses e um ano para receber a confirmação do diagnóstico da leucemia.

E mais: 67% dos entrevistados não receberam informações por escrito sobre seu diagnóstico.

A demora em receber a confirmação diagnóstica é uma situação bastante preocupante, já que, quanto antes o câncer for descoberto, confirmado e oportunamente tratado, melhores serão os resultados clínicos.

As dúvidas ou desentendimento da população atingem também a etapa do tratamento. Ainda há muitos que acreditam não existir terapêuticas contra a leucemia, ou que os resultados não são tão positivos.

Primeiramente, a leucemia não é uma doença única. Ela pode ser dividida em agudas (quando seu desenvolvimento é mais rápido) e crônicas (quando seu desenvolvimento é mais lento).

Sendo assim, os principais tipos são:

• Leucemia mieloide aguda (LMA)
• Leucemia linfoide aguda (LLA)
• Leucemia mieloide crônica (LMC)
• Leucemia linfoide crônica (LLC)

Cada uma delas tem especificidades que irão influenciar no tratamento e na própria evolução da doença.

Por exemplo: a LLC, em muitos casos, não necessita de medicamentos de maneira imediata. O paciente fica no chamado período “Whatch and Wait” (assistir e esperar, da tradução do inglês).

A LMC, por sua vez, precisa tratar, mas o paciente utiliza um medicamento oral (o inibidor da tirosina quinase) e segue sua vida com acompanhamento médico periódico e atividades usuais.

As leucemias agudas necessitam de uma atenção maior. A LLA, o subtipo mais comum durante a infância, responde ao esquema terapêutico com quimioterapia ou imunoterapia.

Mais recentemente, as terapias genéticas inovadoras, como a CAR-T Cell, chegaram para promover uma verdadeira revolução biotecnológica e novas possibilidades à terapêutica contra esse tipo da doença.

Já quando o paciente tem diagnóstico de LMA, que acontece com frequência em adultos, receberá um tratamento parecido, com ciclos de quimioterapia ou imunoterapia.

Para ambas, o transplante de medula óssea (TMO) com doador pode ser indicado, dependendo de avaliação especializada e individualizada, caso a caso.

A realidade é que, atualmente, existem várias opções terapêuticas, que apresentam resultados positivos e até mesmo conduzem o paciente à cura em alguns casos. E a população precisa saber disso!

Mesmo assim, 2/3 dos pacientes entrevistados na pesquisa de Jornada da Abrale disseram não saber quais medicamentos tomaram durante o tratamento.

Ou seja, mesmo assistidos, pacientes não entendem o tratamento ao qual estão se submetendo. Isso é grave. Essa desinformação impede que a pessoa seja protagonista do seu processo de cuidado em saúde e causa angústias, dúvidas e incompreensão.

Informação correta, acessível e durante todas as etapas do cuidado de fato muda destinos.

Por isso, é primordial falar sobre a leucemia, sem tabus. A população deve se conscientizar que esta é, sim, uma doença que exige atenção e cuidados médicos, mas que, diferente do que muitos pensam, não é uma sentença de morte.

É possível tratar e até mesmo chegar à cura em alguns casos. Empoderar o paciente para que ele tenha acesso ao melhor tratamento e qualidade de vida também se faz necessário. Afinal, ter uma leucemia não precisa ser doloroso, angustiante.

Nós, da Abrale, continuamos o trabalho de conscientização não somente no mês de fevereiro – mês em que se trabalha o conhecimento sobre a doença –, mas ao longo de todo o ano. Disseminando informação, oferecendo apoio e acolhendo pacientes e familiares!

Afinal, combate e controle ao câncer é um problema e responsabilidade de todos.

Autora: Catherine Moura é médica sanitarista e CEO da Abrale

 

Fonte: Revista Veja Saúde

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