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Fazer exames com frequência previne ou não o câncer? Eis a questão.

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Última atualização em 29 de julho de 2021

A quantidade inadequada para a realização destes exames gera preocupação para o governo

Quando o assunto é saúde, não há espaço para brincadeiras. Ainda mais quando um câncer está em questão. É extremamente importante que seja mantido um estilo de vida saudável. Além de estar sempre de olho nos sinais que o corpo dá. Mas, existe uma linha tênue entre se cuidar e exagerar.

As células do corpo humano possuem um ciclo de vida no qual elas nascem, se dividem (reprodução) e morrem. O câncer acontece quando células anormais começam a se reproduzir de maneira descontrolada, rápida e agressiva. Podendo até invadir outros tecidos, conhecido como metástase.

Apesar de existir uma vasta quantidade de exames que auxiliam na prevenção de várias doenças, o câncer, na maioria das vezes, não entra nesse grupo. É o que diz Dra. Maria Inez Gadelha, do Ministério da Saúde.

“O único exame que efetivamente previne a doença, no sentido estrito de evitá-lo, é o preventivo do câncer do colo uterino”.

Isso acontece porque o câncer do colo do útero possui uma fase pré-maligna. Ela pode ser detectada por meio do exame ginecológico e tratada antes mesmo de se tornar uma doença. Além de também poder ser prevenido pela vacina do HPV.

Com exceção desse único caso, todos os outros tumores só podem ser detectados após já terem acontecido. Por exemplo, a mamografia não vai fazer com que uma mulher consiga impossibilitar que um câncer de mama apareça. O máximo que o exame pode fazer é descobrir a doença no início, facilitando o tratamento.

Esse cenário não é diferente se levarmos em conta os cânceres hematológicos

“A doença chega chegando, uma leucemia aguda, por exemplo, ocorre em algumas semanas”, conta o Dr. Philip Scheinberg, onco-hematologista e membro do Comitê Médico da Abrale.

Ele conta que nesses casos é ainda mais complicado falar em prevenção. Os cânceres hematológicos podem ser indicados por alterações em hemogramas comuns. No caso da leucemia mieloide crônica (LMC), olha-se os leucócitos, e para o mieloma múltiplo, existe o exame de eletroforese de proteínas. Mas, essa alteração que pode aparecer no teste de eletroforese não está diretamente ligada à doença.

“Não é que detecta o mieloma. Detecta uma alteração que pode estar associada ao mieloma. Mas a maioria das pessoas que têm essas alterações nunca vão desenvolver nada”, diz o Dr. Philip.

Ele exemplifica que dessas pessoas que apresentam essa alteração no exame, existe 1% de chance de elas desenvolverem um mieloma múltiplo. Sendo que não há nada que possa ser feito para diminuir essa chance para zero.

Câncer no Brasil

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que um em cada cinco homens e uma em cada seis mulheres irão desenvolver algum tipo de câncer durante suas vidas.

De acordo com o mesmo levantamento, para cada ano do período entre 2018-2019, um pouco mais de 5 mil homens apresentarão novos casos de linfoma não-Hodgkin (LNH). Já para as mulheres, essa estimativa é de 4.810.

Ou seja, o câncer já é uma realidade na vida de grande parte dos brasileiros. Alguns já ouviram falar por conta de alguma campanha, outros sabem porque algum conhecido já teve. Ou até mesmo porque a própria pessoa tratou da doença.

A Drª. Maria Gadelha afirma que os brasileiros têm cada vez mais conhecimento em relação a questões da saúde. Porém, quando o assunto é o câncer, a informação está “contaminada” de estereótipos e impressões formadas com base em estudos e experiências que vêm sendo questionados.

Desinformação sobre o câncer

“A informação inadequada leva à falsa ideia de que a mamografia, por exemplo, previne e protege a mulher do câncer de mama sem que haja malefícios associados. Especialmente quando adotada como exame de rastreamento fora da periodicidade e faixa etária recomendada para sua realização”, diz ela.

Dr. Philip, por sua vez, aponta que muitas vezes antes mesmo de receber o diagnóstico correto e de ter uma conversar com o médico, as pessoas procuram informações na Internet. “E na internet tem muita coisa errada”, alerta o médico.

Ele ainda coloca que o correto é a pessoa tirar todas as dúvidas com o médico para evitar a desinformação. “A gente vai educando junto no processo. Então, passamos muito tempo explicando o que é aquele diagnóstico, porque ele é diferente de outros tipos de câncer. Ou porque é parecido com alguns”.

Essa educação é extremamente importante no caso dos cânceres hematológicos, já que eles são considerados mais raros em relação aos outros. Sendo que, muitas vezes, as pessoas nunca ouviram falar.

Exame demais faz mal

De acordo com a Drª Inês Gadelha, vários países estão apresentando questionamentos sobre os benefícios do rastreamento populacional.

Esse tipo de rastreamento é feito por programas do governo e consiste em uma pesquisa sobre um grupo de pessoas. Podendo ser de um Município ou de um Estado. O objetivo desse tipo de ação é detectar doenças precocemente.

Tem sido questionado, entretanto, que não se sabe exatamente até onde os efeitos negativos compensam a segurança que esses exames trazem.

“Dentre os efeitos negativos está o superdiagnóstico e o supertratamento. Uma realização excessiva de exames que acabam encontrando e tratando anormalidades que não trariam nenhum malefício a pessoa. E como é mais sedutor acreditar na mensagem de proteção do que na racionalidade científica, a pessoa passa a aceitar e a se submeter a rastreamentos desnecessários e fica exposta a efeitos colaterais que desconhece e não lhe são informados. O risco, que aumenta a cada dia, inclusive com os exames moleculares, é que termina tratando-se o exame, não o doente”, desabafa Dra. Gadelha.

Além desse problema de tratar o que não precisa, o Dr. Philip coloca também que muitas vezes o paciente passa por vários médicos que não têm as ferramentas necessárias para dar um diagnóstico correto.

“Às vezes, as alterações iniciais são pequenas e discretas, mas a doença já está lá. O paciente passa em vários médicos, não sei se todos são especialistas. Pode acontecer da pessoa que está atendendo não ter as ferramentas para fazer esse diagnóstico”, diz ele.

O que fazer então?

A Drª Inês destaca que a única forma de realmente prevenir um câncer é ficar longe de fatores de risco como cigarro, bebida em excesso, maus hábitos alimentares, exposição ao sol e contaminações ambientais.

Ela diz que as campanhas realizadas pelo governo para esse tipo de doença são mais focadas em levar informações até as pessoas. “Elas precisam ser alertadas sobre os fatores de risco e como o SUS pode ajudar por meio da promoção da saúde e prevenção, detecção, diagnóstico e tratamento”, finaliza ela.

Claro, não se deve parar de fazer exames, mas o importante é fazer na periodicidade adequada e ir até um especialista que esteja apto a dar um diagnóstico correto.

Para que essas duas coisas possam acontecer, foi aprovada uma lei que permite ao trabalhador faltar por até três dias, dentro do período de um ano, para fazer exames que possam detectar o câncer (mamografia, ginecológico e o antígeno prostático específico).

Descobrir câncer logo no começo aumenta as chances de cura

Ficar atento aos sinais diferentes que o corpo pode manifestar é fundamental, afinal detectar um câncer logo no começo aumenta as chances de cura em até 90% dos casos – a depender do tipo da doença.

Por este motivo, está no Senado o Projeto de Lei 143/2018, conhecido como PLC dos 30 dias. Ele determina o diagnóstico de um câncer em até um mês. Neste momento, este projeto está em votação e você pode ajudar clicando em https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=134968

 


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